Diálogos Inter-Religiosos
Com Haroldo Dutra Dias.
- O que você entende por diálogo inter-religioso?
A experiência nos tem demonstrado que o dialogo inter-religioso é o aprimoramento da capacidade individual de escuta. Representa um incremento da nossa habilidade de ouvir, já que possibilita a rara oportunidade de tomar contato com as crenças de nossos semelhantes sem as deturpações decorrentes de uma exposição crítica, tendenciosa ou maliciosa. Ao estabelecermos uma relação de respeito, de acolhimento e de livre expressão temos a chance de avaliar ideias, sistemas de parcial, seguindo dos ditames da fé raciocinada e do bom senso preconizados pelo Espiritismo.
- O momento atual favorece tais diálogos?
Diríamos que o momento atual clama pelo diálogo inter-religioso, tendo em vista as recentes manifestações de fundamentalismo, com amplos prejuízos para a sociedade, inclusive ceifando vidas inocentes. Acreditamos que o diálogo maduro, honesto e respeitoso é a única via para mitigar o ódio, o sectarismo e a intolerância.
- Há algum preparo ou condição para tal atuação?
O diálogo deve ser pautado na mais absoluta liberdade de expressão, todavia, sem perda do respeito mútuo, do decoro, e da caridade. É preciso deixar claro aos participantes que não se trata de uma arena, de uma esgrima intelectual, mas de um encontro de setes humanos que buscam compreender melhor as crenças alheias de modo a estabelecer vínculos de fraternidade legítima.
- O estudo do Evangelho à luz do Espiritismo favorece este entendimento?
O estudo e a prática do Evangelho, à luz do Espiritismo, nos auxiliam a compreender que Jesus não fazia distinção de pessoas, nem jamais estabeleceu como pré-requisito a doação desta ou daquela crença, que servisse de parâmetro para sua aproximação. Pelo contrário, buscou a todos indistintamente, esclarecendo que seus discípulos seriam conhecidos pelo amor que devotassem uns aos outros.
- Quais os cuidados que devem ser considerados?
É preciso compreender, inicialmente, que o diálogo inter-religioso exige de quem dele participa um conhecimento sólido das suas próprias crenças, alicerçado na prática dos valores morais. No caso do espírita, é necessário que conheça e estude em profundidade a Doutrina Espírita, esforçando-se para colocar em prática seus postulados morais, além de estar engajado em atividades no grupo espírita, a fim de que possa dialogar com conhecimento de causa. Por outro lado, é necessário que estude, com senso crítico, outras filosofias, teologias e sistemas de crenças, para que o seu diálogo não seja pautado pela ingenuidade, dando mostras de ignorância. Não basta a boa vontade, o diálogo inter-religioso exige preparo, estudo, bom senso. É indispensável, também, precaver-se do atavismo, ou seja, daquela tendência que todos trazemos de repetir práticas que já não condizem com nosso grau de percepção atual.
Finalmente, é preciso estar imbuído do amor ao próximo e da caridade genuína, sem os quais o diálogo se transforma em exibicionismo e disputa tola, comprometendo os padrões da fraternidade legítima que devem nortear nossas ações.
Fonte: Revista “O Reformador”| ano 133| nº 2.233| abril 2015| p. 10 e 11.
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