I - O SOBRENATURAL E AS RELIGIÕES
Pretender-se que o sobrenatural é o fundamento indispensável de toda religião, que é a pedra angular do edifício cristão, é sustentar perigosa tese. Assentar as verdades do Cristianismo sobre a base exclusiva do maravilhoso é dar-lhe fraco alicerce, cujas pedras facilmente se soltam com o passar dos dias. Essa tese, de que se constituíra, defensores eminentes teólogos, leva direto à conclusão de que, em dado tempo, já não haverá religião possível, nem mesmo a cristã, desde que se chegue a demonstrar que é natural o que se considera sobrenatural, visto que, por mais que se acumulem argumentos, não se conseguirá sustentar a crença de que um fato é miraculoso depois de se haver provado que não o é. Ora, a prova de que um fato não é uma exceção nas leis naturais é quando pode ser explicado por essas mesmas leis e que, podendo reproduzir-se por intermédio de um indivíduo qualquer, deixa de ser privilégio dos santos. Não é do sobrenatural que necessitam as religiões, mas do princípio espiritual, que elas confundem erradamente com o maravilhoso e sem o qual não há religião possível.
O Espiritismo considera a religião cristã de um ponto de vista mais elevado; dá-lhe uma base mais sólida do que a dos milagres: as leis imutáveis de Deus, quererem tanto o princípio espiritual como o princípio material. Essa base desafia o tempo e a ciência, porque o tempo e a ciência virão sanciona-lá.
Deus não se torna menos digno da nossa admiração, do nosso reconhecimento, do nosso respeito, por não haver derrogado suas leis, grandiosas, sobretudo, pela imutabilidade que as caracteriza. Não há necessidade do sobrenatural para que se preste a Deus o culto que lhe é devido. A natureza não é de si mesma tão imponente, a ponto de dispensar o que quer que seja para provar o poder divino? A religião encontraria menos incrédulos se, em todos os pontos, fosse sancionada pela razão. O Espiritismo nada tem que perder com semelhante sanção; ao contrário, só pode ganhar. Se alguma coisa o tem prejudicado na opinião de muitas pessoas, foi precisamente o abuso do maravilhoso e do sobrenatural. {…}
Fonte: Revista “Reformador” | Ano 133 | N° 2.238 | Setembro 2015 | PG.19.
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