Evolução espiritual através do corpo
O pensador e analista americano James Hillman compara o
ser humano a um carvalho. Diz que possuímos, desde que nascemos, o potencial
que desenvolveremos ao longo da vida, tal como a semente de um carvalho que,
minúscula, guarda em si a imensa árvore que será um dia, dali a trinta,
quarenta anos. Ou seja, basta que nada atrapalhe nosso crescimento e, natural e
espontaneamente, chegaremos a desenvolver o que já temos na forma de embrião
desde que nascemos. Somos poderosos. Nascemos gigantes. Só é necessário que não
nos atrapalhem com a educação podadora.
Todos somos como a semente do carvalho. Só temos de
regar carinhosamente esse embrião de gigante que carregamos dentro de nós.
Bem alimentada, essa plantinha interior explodirá para
a vida, alcançando também fatores de crescimento
social e econômico que
virão por acréscimo. Deixe a vida fluir e você logo colherá seus frutos.
Quando começamos a trabalhar o corpo no sentido de
provê-lo de mais energia e saúde, percebemos que aquele mundo social, agressivo
e castrador que tanto nos podou e anulou vai perdendo a força e cedendo terreno
a um poder maior que começa a surgir dentro de nós.
Imagine, por exemplo, uma pessoa franzina e magra que
desde pequena se acostumou a ouvir que é frágil, que não tem resistência nos
jogos ou nos esportes. Essa fraqueza fica marcada em sua personalidade e fará
parte de seu jeito de ser. Quando se é fraco, há uma leitura no cérebro que
atinge as emoções, a
mente e o espírito e,
simplesmente, fica-se fraco em tudo.
Se essa pessoa, em determinado momento da vida, passa a
desenvolver seu organismo, fazendo-se forte, torna-se espiritual, emocional e
mentalmente forte. Fazendo-se forte ela se descobre com possibilidades até
então insuspeitadas e passa a ter uma nova atitude diante da vida. Esse é o
real objetivo do trabalho com o corpo. É realmente um trabalho de conteúdo, no
qual não se busca apenas modelar o físico, mas abrir uma estrada magnífica que
permita explorar nosso potencial, nosso extraordinário mundo interior.
A descoberta de que você nasceu para coisas muito
maiores do que as metas colocadas inicialmente em sua cabeça funciona como uma
mágica poderosa. Esses limites realmente não existem e, quando se faz esse
trabalho de saúde, começa-se a ter uma transformação orgânica extraordinária. É
essa modificação em todo o corpo que sustenta sua cabeça, seu espírito, suas
emoções. Um corpo jovem proporciona um espírito jovem, mas um espírito jovem
não pode proporcionar um corpo jovem -porque este somente se faz jovem pelo
movimento. Não adianta apenas pensar jovem. É necessário ser jovem, e isso se
consegue com o trabalho biomecânico e orgânico.
É impossível uma pessoa florescer e elevar-se
espiritualmente alicerçada em um corpo débil, incapaz de reparar as perdas
inerentes ao próprio gasto diário. Quando uma pessoa começa a recuperar sua
força física, é tomada por um sentimento de poder e de força, dado pela
plenitude de seu organismo. Somente assim pode aumentar seu lastro de
crescimento espiritual.
O corpo é o nosso templo sagrado. Quando você quiser
encontrar paz de espírito, recolha-se ao seu interior, mergulhe no seu mais
profundo eu. Não há necessidade de exageros, como aqueles que se embrenham nas
montanhas e ficam lá por vários meses meditando. Mas seria muito valioso se as
pessoas pudessem se dar vinte a trinta minutos diários de um profundo
relaxamento ou mesmo de uma meditação, assim recebendo essa energia sideral que
penetra em nosso planeta e está à disposição de todos para buscar a paz
interior. Para experimentar a plenitude de vida que essa paz oferece.
O sol representa o elemento mais nítido de emissão
dessa energia e precisamos aproveitá-la melhor. Uma forma de captá-la do cosmo
é pela manhã. Aconselho as pessoas a, logo que acordarem, se colocarem de
frente para o sol nascente, sentando-se no chão ou sobre almofadas, com as
pernas cruzadas, usando roupas folgadas para que o corpo fique o mais livre
possível. Apoiando-se sobre os ísqueos (os dois ossinhos na parte inferior das
nádegas), mantendo o tronco ereto e os olhos fechados na direção do sol. Nessa
posição, com os braços caídos ao longo do corpo, tendo as palmas das mãos sobre
o colo, voltadas para cima e levemente abertas para os lados, realizar
respirações lentas e profundas por uns vinte minutos. Você não tem vinte
minutos? Então dez. Nem dez? Cinco! Não dá? Então, dois ou três minutos. O
importante é começar. Se entregar. Doar-se a si mesmo. Você merece!
Com o passar do tempo, poderá sentir essa incrível
energia entrando pelas mãos e perceber que, pouco a pouco, nenhum pensamento
passa mais por sua cabeça nesse momento.
Mesmo que algumas pessoas não consigam entrar nesse
estado meditativo absoluto, o simples fato de estarem completamente relaxadas é
o bastante para alegrar seu organismo e promover um equilíbrio químico interno
e um aproveitamento intenso dessa fantástica energia do Universo.
Existe uma relação forte e direta entre meditação – o
encontro de si mesmo – e a busca do divino em nós. Todas as religiões antigas
se utilizaram da meditação para encontrar-se com Deus no silêncio da alma. E se
parece paradoxal à primeira vista chegar ao espírito através do corpo, isso
decorre de raso preconceito que considera tudo que é material menos nobre.
O corpo é, sem dúvida nenhuma, o que mais consubstancia
a presença de Deus na Terra, tanto por sua complexidade de analogias e
interações, como por seu extraordinário funcionamento. Ele é verdadeiramente
uma máquina divina.
Não é somente a teoria espiritual que espiritualiza o
homem, mas também a prática espiritual. Essa luta constante pela busca da
transformação do corpo que leva o homem a encontrar-se com a parte mais
profunda de seu espírito. E pode reforçar no homem o que ele tem de positivo.
O filósofo Augusto Comte, criador da sociologia,
costumava dizer que era um absurdo a pessoa ter de fazer o bem para obter o céu
como recompensa. O “ser bom” se completa por si mesmo. Não se é bom pretendendo
alguma coisa a não ser bom. Claro que você acaba tendo a recompensa de
proporcionar a si mesmo hormônios revitalizadores. Tem-se de ser bom porque é
bom ser bom.
Nada está fora do corpo, nem o espírito, nem a alma,
nem a mente. Tudo se funde numa coisa só, obra-prima do Criador. Em nosso corpo
repousa nosso delicado espírito e dorme tranquila nossa alma. Nele também está
seu computador, o cérebro, que por sinal é físico, não etéreo e abstrato como
costumamos pensar, mas fruto palpável dos nossos neurônios, com suas teias de
ligações interneurais e espantosas sinapses responsáveis pelo complexo mundo
dos movimentos ditados pelos nossos músculos.
Pelo corpo alcançamos a evolução
espiritual de uma forma mágica e
muito simples. A partir do momento em que atingimos uma certa plenitude de
vida, alicerçando o corpo como um organismo forte, tendo saúde, isto é,
disposição, vitalidade e alegria de viver, essas conquistas de ordem orgânica
fabricam essências que nos deixam numa sintonia mais leve, com muito mais calma
e tranquilidade para enfrentar o embate da vida.
Fonte: http://www.sabernarede.com.br/
Por: Matheus Henrique
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