A missão junto a Chico Xavier.

Chico Xavier, dispensa apresentações. Com 80 anos dedicados à causa espiritual, mostrou desde cedo para que veio ao mundo. Não vamos analisar aqui o mérito da vida e das obras de Chico como intérprete dos espíritos, apenas salientar seu papel junto a Humberto de Campos espírito.

Humberto tomou conhecimento de Chico Xavier em 1932, logo após a publicação da primeira edição da obra mediúnica Parnasso de Além-Túmulo. Curiosamente, na segunda edição, o próprio Humberto em espírito, marcaria aquelas páginas.

Não é segredo que nos últimos anos de Humberto, desde 1928, ele tornou-se cronista de sua própria desventura, começou a esboçar um caráter mais ameno e a demonstrar mais aceitação com o religiosismo vulgar. Não tornou-se um religioso declarado, porém nas entrelinhas das suas crônicas deixa claro sua preocupação com o fim da vida que se desdobrava às vistas, também, muito possivelmente pelo sofrimento físico que implacável, lhe lançava em profunda reflexão buscando compreender o motivo do seu sofrimento. Jamais perdeu, contudo, o viés irônico nos seus escritos, mesmo como espírito.

Humberto escreveu para o Jornal Diário Carioca, sobre a recente obra supostamente mediúnica de Chico, Parnasso de Além-Túmulo: “Eu faltaria, entretanto, ao dever que me é imposto pela consciência, se não confessasse que, fazendo versos pelas penas do Sr. Francisco Cândido Xavier, os poetas de que ele é intérprete apresentam as mesmas características de inspiração e de expressão que os identificavam neste planeta. Os temas abordados são os que os preocuparam em vida. O gosto é o mesmo e o verso obedece, ordinariamente, à mesma pauta musical. Frouxo e ingênuo em Casimiro de Abreu, largo e sonoro em Castro Alves, sarcástico e variado em Junqueiro, fúnebre e grave em Antero, filosófico e profundo em Augusto dos Anjos.” (Humberto de Campos se referiu a primeira edição de “Parnaso de Além-Túmulo”, é a partir da segunda edição que há um texto atribuído a ele “em espírito”).

Em seguida desencarnava Humberto.

Em fevereiro de 1935, Chico Xavier sonhou com Humberto de Campos. Relatou seu sonho em carta de 30 de março de 1935, dirigida a — Manuel Quintão — um dos principais responsáveis pela primeira aceitação dos escritos do médium mineiro pela FEB. (Alexandre Caroli Rocha, PG 78)

Não sei se o amigo recebeu a minha última carta, mas, mesmo sem saber se o estou aborrecendo, envio-lhe outra, acompanhada de duas produções mediúnicas recebidas por mim nesta semana. Peço-lhe a sua opinião muito franca sobre elas, desejando que me escreva em breves dias. Há mais de um mês tive um sonho engraçado. Sonhei que uma pessoa me apresentou Humberto de Campos, num lugar de céu muito azul e brilhante e no chão havia uma espécie de vegetação que não me deixava ver a terra. Não vi casa alguma. O que me impressionou mais é que as pessoas que eu via estavam sob uma árvore muito grande e tão branca que, quando o sol batia nas suas frondes de folhas muito delgadas, parecia uma grande árvore de cristal. Ele veio então ao meu lado e me estendeu a mão com bondade, dizendo: “Você é o menino do Parnaso?” Disse-me mais coisas das quais não me posso recordar.

Que diz o amigo de tudo isto? Seria a minha imaginação? Não sei. Em todo o caso, mando estas páginas para o senhor ler. Estão certas as citações? (Apud Barbosa, 1997, p. 39).

Neste mesmo ano Chico publicava sua segunda obra: “Cartas de uma morta” pelo Espírito de sua mãe, Maria João de Deus.

Os primeiros textos atribuídos a Humberto de Campos (Espírito), foram publicados na Revista Reformador que já circulava pelo país desde 1883, era o órgão de divulgação do Espiritismo pela FEB (Federação Espírita Brasileira).

Em seguida seus escritos foram publicados nos seguintes livros:

·         Crônicas de além-túmulo, em 1937;
·         Brasil, coração do mundo, pátria do Evangelho, em 1938;
·         Novas mensagens, em 1940;
·         Boa nova, em 1941;
·         Reportagens de além-túmulo, o último atribuído a Humberto de Campos, em 1943;
·         Lázaro redivivo, o primeiro assinado por Irmão X, em 1945;
·         Luz acima, em 1948;
·         Pontos e contos, em 1951;
·         Contos e apólogos, em 1958;
·         Contos desta e doutra vida, em 1964;
·         Cartas e crônicas, em 1966;
·         Estante da vida, em 1969.
Os três livros mais vendidos foram:
·         Brasil, coração do mundo, pátria do evangelho (294 mil exemplares)
·         Boa nova (251 mil exemplares)
·         Crônicas de além-túmulo (100 mil exemplares).

De um modo geral, os críticos de todas as áreas, até da psiquiatria se pronunciaram a respeito das obras mediúnicas do Chico. A maior parte dos especialistas na ciência das letras, convergiam para a conclusão de que os textos correspondiam com cada suposto autor em vida — em se tratando da obra Parnasso de Além-Túmulo —, mas repudiavam a autoria dos desencarnados,— É pastiche!—, diziam,— imitação perfeita —, mas imitação, nada mais do que “A maneira de…”
Destacamos alguns:

Monteiro Lobato: – “Se Chico Xavier produziu tudo aquilo por conta própria, então ele merece ocupar quantas cadeiras quiser na Academia Brasileira de Letras”

Zeferino Brasil, Correio do Povo, 1941: – “Seja como for, o que é certo é que – ou as poesias em apreço são de fato dos autores citados e foram transmitidas do além ao médium que as psicografou, ou o Sr. Francisco Cândido Xavier é um poeta extraordinário, genial mesmo, capaz de produzir e imitar, assombrosamente, os maiores gênios da poesia universal… Em todas elas (nas poesias) se encontram patentes as belezas, o estilo, os arrojos, as imagens próprias, os defeitos, o ‘selo pessoal’, enfim, dos nomes gloriosos que as assinam e vivem imortais na história literária do Brasil e Portugal.”

Menotti del Picchia: – “Deve haver algo de divindade no fenômeno Francisco Cândido Xavier, o qual, sozinho, vale por toda uma literatura. É que o milagre de ressuscitar espiritualmente os mortos pela vivência psicográfica de inéditos poemas é prodígio que somente pode acontecer na faixa do sobre-humano. Um psico-fisiologista veria nele um monstruoso computador imantado por múltiplas memórias. Um computador de almas e de estilos. O computador, porém, memoriza apenas o já feito. A fria mecânica não possui o dom criativo. Este dimana de Deus. Francisco Cândido Xavier usa a centelha divina imanente em nós[…]

O escritor Mário Donato disse em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo: “Dei-me ao trabalho de examinar grande número de mensagens psicografadas por Chico Xavier e vários outros médiuns; e, francamente, como não posso admitir que um homem, por mais ilustrado que seja, consiga ‘pastichar’, tão magnificamente, autores como Humberto de Campos, Antero de Quental, Augusto dos Anjos, Guerra Junqueiro e, se não me engano, Victor Hugo e Napoleão Bonaparte, opto pela explicação sobrenatural, que não satisfaz minha consciência, é verdade, mas apazigua a minha humaníssima vaidade de literato[…] É milagre. Coisas assim não podem ser senão milagre, puro milagre. Há qualquer intervenção sobre-humana no fato; não porque o diz Chico Xavier, mas porque assim o exige nossa arrogância[…] Positivamente não aceito a autoria de Chico Xavier, e aceito a de Humberto, como a de Antero, Napoleão, Dumas e qualquer outro que, do lado de lá, tenha o mau gosto de praticar literatura. E creio que essa é a atitude mais humana, a mais condizente com a nossa falta de humildade. É milagre, e o milagre, não explicando nada, explica tudo. Pois se não admitirmos que o caso é milagroso, temos que levar o Chico Xavier à Academia Brasileira de Letras e, naturalmente, estamos mais dispostos a reconhecer-lhe amizades no Céu que direitos literários ao Petit Trianon”.

Temos também as críticas mais encarniçadas e negativas que objetivavam a total desmoralização do médium e das obras como um todo. Cabe lembrar o caráter muito católico ou cético destes críticos, também encontrado nas críticas positivas. Entre estes ressaltamos:

Agripino Grieco escreveu para Diário da Noite: “Os livros póstumos, ou pretensamente póstumos, nada acrescentam à glória de Humberto de Campos, sendo mesmo bastante inferiores aos escritos em vida. Interessante: de todos os livros que conheço como sendo psicografados, escritos por intermédio de um médium, nenhum se equipara aos produzidos pelo escritor em vida.”

Fonte: http://jornalcienciaespirita.spiritualist.one/
Por: Laura Lins

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