Quem foi Humberto de Campos Veras:

Humberto de Campos nasceu em uma pequena cidade no interior do Maranhão, Miritiba, no dia 25 de outubro de 1886. Permaneceu lá até a desencarnação de seu Pai, aos seis anos de idade. Em seguida rumou à Capital São Luis, onde não permaneceu por muito tempo. Em nova mudança, partiu para Parnaíba, cidade no interior do Piauí, onde se alfabetizou frequentando pequenas escolas.
Não teve nenhuma instrução privilegiada, e não se destacou nas letras durante o período básico de sua formação educacional. Ao contrário, teve que trabalhar desde muito cedo no comércio, como aprendiz de alfaiate e balconista de loja, empregos que não duravam muito tempo pela depressão econômica que assolava aquelas paragens. Por fim, viu-se como assistente de sua mãe na confecção de meias, e outras peças íntimas, trabalho realizado em sua própria casa. Período em que se desdobrava como assistente de sua mãe e aprendiz de tipógrafo, vendo-se sem perspectivas nesta cidade, e muito possivelmente por insistência de sua mãe, voltou à Capital São Luís, quando completava seus 13 anos de idade.
Em São Luís, Humberto foi morar com seu tio Franklin, encontrou serviço em uma tipografia. Continuava porém, a perambular de emprego em emprego, voltando ao comércio como balconista e em seguida à tipografia.
Tratou pois de empregar utilmente o tempo fora do trabalho, frequentando as bibliotecas públicas, pois havia despertado vivo interesse em obras de ficção, — em especial as de Júlio Verne —, que tornou-se o seu autor favorito na adolescência. Embora tivesse despertado vivo interesse por estas obras e pela leitura em geral, não cogitava tornar-se escritor,— antes—, acreditava que poderia ter êxito na vida através do trabalho no comércio. Começava a se tornar um profissional por necessidade, não por gosto.
A convite de um outro tio, Antoninho, meteu-se a abandonar seu trabalho regressando temporariamente para Parnaíba, na expectativa de uma vida profissional mais segura mais longe dali, no estado do Pará. Mas o tio mudou de ideia, e Humberto amargou novamente o desemprego e se viu de volta, ao seio do lar maternal.
Seu tio Emídio em socorro, ofereceu-lhe novamente uma vaga na sua loja como balconista. Humberto encarou estas adversidades que lhe custaram muitas lágrimas; — ao menos, tinha o emprego de balconista novamente —, pensava.
Foi nesta época, conta ele, que sua paixão literária tomou força. Conheceu alguns escritores contemporâneos, lia diversos jornais e almanaques literários, como o Almanaque de Lembranças e o Almanaque de Pernambuco. Assim, tomou gosto pela poesia e naturalmente arriscou escrever seus primeiros poemas. Outra categoria de literatura entrava em cena, autores positivistas, evolucionistas e materialistas, que estavam em destaque naquela época, despertaram nele toda a atenção, como consequência via suas crenças católicas abaladas profundamente; após a leitura de autores como Haeckel, Buchner, Comte e Spencer, começara ali a tornar-se um cético.
Seu tio Antoninho, querendo redimir-se lhe faz novo convite e em 1903, Humberto parte para Belém do Pará. Como se o fracasso do primeiro convite deste tio não houvesse lhe ensinado a lição da cautela, meteu-se novamente em enrascada, e comeu o pão que o diabo amassou nos primeiros meses da sua estada por lá, não encontrando emprego e sendo acometido de uma neurastenia.
Com muito custo, foi contratado por um jornal em decadência com o cargo de revisor, dava seu primeiro passo…
Vendo que não teria futuro no jornal,— e a vida lhe oferecendo uma oportunidade mais segura e melhor como administrador de seringais —, pariu para Mapuá, nas divisas entre os estados do Pará e Amazonas. Durante um ano e meio trabalhou nesta região de difícil adaptação. Pela exposição à que se submetia, contraiu uma febre palustre, e correndo teve de regressar a Belém para tratamento. Ao menos, neste tempo havia conseguido provisões financeiras suficientes para se tratar.
Curado não quis regressar à Mapuá, e a vida como que lhe sorrindo após a experimentação, deu-lhe a oportunidade de ouro como Redator do Jornal Folha do Norte. A princípio, já com um tom característico e que atraía pela beleza da eloquência e palavras suaves pouco irônicas, denunciava a situação mais do que deplorável dos seringueiros daquela região, submetidos as exaustivas horas de trabalho bruto pelos contratantes em troca de quantias miseravelmente ingratas. Foi lá que desenvolveu-se cronista, muito lido e admirado, ingressava definitivamente no ramo jornalístico.
Em 1907, a vida lhe sorriu novamente sendo contratado como redator-chefe do Jornal Província do Pará. O proprietário deste jornal, Sr. Antônio Lemos, exercia também a função de prefeito da Capital, Belém, e muito impressionado com as habilidades de Humberto, o fez secretário da prefeitura.
Em 1910, período muito próspero, Humberto publicaria sua primeira obra: “Poeira”, repleto de poesias. Obra esta editada em Portugal.
Também apaixonara-se por Catharina Vergolino, que logo tornou-se sua noiva. A vida dava-lhe dignidade, prestígio e presenteava-lhe com um amor arrebatador.
Em 1912, quando a população revoltada fez um levante armado contra o prefeito que foi destituído, sofrendo também o fechamento do seu jornal, Humberto sendo ameaçado, muito possivelmente por ter exercido a defesa não muito digna do seu patrão através das folhas públicas, partiu às pressas para o Rio de Janeiro, então Capital Federal. Sua noiva não lhe acompanhara devido a urgência com que teve que partir, foi ter com ele no Rio de Janeiro apenas no ano de 1913, não antes de ter casado por procuração.
Humberto e Catharina tiveram 3 filhos, Maria de Lourdes, Henrique e Humberto. Logo que chegou ao Rio de Janeiro, estabeleceu forte amizade com Coelho Neto, autor que tanto admirava.
Alternou-se como colunista, redator, editor e outras funções editorais nos jornais Gazeta de Notícias e o Jornal O Imparcial, este último, muito renomado contava com a participação de nomes de envergadura como Goulart de Andrade, Rui Barbosa, Olavo Bilac, Paulo Barreto, Emílio de Menezes e João Ribeiro.
Desenvolvia outras habilidades literárias… Ganhara uma seção política, chamada “Ecos”, e escrevia seus primeiros contos humorísticos, todos sob o pseudônimo de Conselheiro XX. Estas suas novas habilidades deram a Humberto enorme popularidade, tornava-se neste tempo uma celebridade das letras e era lido e comentado em todos os cantos.
Mas o sucesso profissional como cronista, ainda lhe reservava muitos louros, na década de 20, época em que já não ocultava seu nome de batismo e assinava seus textos com ele.
Antes porém, em 1918, publicara seu primeiro livro de crônicas: “Da seara de Booz”. No mesmo ano publica também o primeiro da série Conselheiro XX: “Vale de Josaphat”. E as obras publicadas cresciam sem parar, até alcançarem o número de 45 títulos. A maior parte destas obras continha textos publicados por ele anteriormente em diversos jornais.
Aos 33 anos de idade, tornava-se membro na Academia Brasileira de Letras (ABL); em seguida ocupando vaga que fora de seu amigo Emílio de Menezes no ano de 1920.
Famoso e escravo do trabalho, trabalhava muito para custear a família, nesta época eram muitos os jornais que publicavam suas crônicas, poesias e notas.
Ingressando na política, em 1927 foi eleito Deputado Federal pelo estado do Maranhão; em seguida reeleito, mas no mesmo ano perdeu o mandato por causa da revolução de 1930, que encerrava definitivamente o período denominado como Primeira República.
Como escritor habilidoso que usava do talento para a causa que achava justa, adquiriu inúmeros inimigos. Mesmo assim, pelo seu talento irretocável foi reconhecido por Getúlio Vargas, seu adversário político mais poderoso, que o tornou Inspetor Federal de Ensino, posição que lhe conferiu a oportunidade de viajar pelo Uruguai e Argentina.
Getúlio exímio estrategista, sabia muito bem o que fazia ao nomear seu adversário político a tal posição. Sendo um homem tão letrado e instruído, seria o mais adequado para ocupar posição na Educação nacional, além é claro de ter sua caneta habilidosa a seu favor, pois Humberto que necessitava do cargo para subsistência familiar não ousaria criticar o governo que o acolhia.
Em 1933 publicou a obra que maior teve repercussão, pois era o cronista da sua própria vida, com toda a ironia e sarcasmo inerentes ao seu estilo, era o palhaço triste que fazia rir no picadeiro do circo da vida.
De certo modo pressentia que sua vida chegava ao término, escrevia cartas à sua mãe falando sobre sua situação depressiva, cercado pelas obrigações de escrever compulsoriamente, e que o prazer tornara-se um fardo, e era esse o preço do sucesso que fizera entre as massas.
Pouco antes de partir para o mundo espiritual, Humberto, agora muito menos cético, menos crítico negativista e menos cronista encarniçado de tudo quanto era de viés religioso, místico e sobrenatural, muito doente no físico e no espiritual, foi nomeado diretor da Casa de Rui Barbosa, função que não teve tempo de desenvolver, senão por 4 meses. Alternava cada vez mais suas noites sem dormir, entre sacos de água quente, que aliviavam as dores nos rins.
Cabe aqui três destaques publicados após sua desencarnação, em crítica positiva e negativa aos escritos de Humberto, durante o período de 1928 até sua desencarnação:
1. […] “Humberto de Campos enche os seus escritos de um tão alto espírito de humanidade, que atinge, às vezes, a pureza das grandes vozes cristãs. Quanto mais sofre, mais a sua palavra se depura. E mais resplandece.” […] (Lima, 1941, p. 354)
2. […] Os cinco últimos anos de Humberto de Campos marcaram o auge de sua popularidade. No início de 1928, ficou ciente de que padecia de hipertrofia da hipófise. Na mesma época, deixou de atuar como Conselheiro XX. Além disso, por causa da Revolução de 1930, perdeu seu mandato de deputado e voltou a ter dificuldades financeiras. Sob essas novas condições, iniciou uma outra fase em sua literatura. Considerando essas mudanças, o escritor Tristão de Athaíde escreveu que a obra de Humberto de Campos “segue uma parábola que poderíamos chamar do sensualismo ao espiritualismo.” E continua, dizendo que, após 1930, “sua literatura mudou de estilo, o que se nota nitidamente, inclusive pelo título dos seus livros, embora sempre no mesmo gênero”. […] (Athaíde, 1992, p. 708)
3. […] “O Sr. Humberto de Campos, para atrair os transeuntes menos curiosos, deu aos jornais alguns tópicos do ‘Diário dum enterrado vivo’, onde se encontram as fases dos seus tormentos, que comovem, sem dúvida alguma. Este escritor tem explorado, porém, demais, sem recato, com impertinência quase, a literatura da sua moléstia. Vai vencendo a indiferença do público pela piedade. Parece-nos que ele refoge aos deveres da capacidade meramente artística, desse modo.” […] (Pontes, s/d, p. 81).
Humberto colhia o que plantara.
Em 5 de dezembro de 1934, desencarnava durante uma cirurgia na Casa de Saúde Dr. Eiras, no Rio de Janeiro. Humberto de Campos Veras, estava no auge da sua notoriedade, havia alcançado o patamar dos autores mais lidos do Brasil.
Ciente da natureza irônica e sarcástica de suas crônicas, dizia estar plenamente consciente de que após sua morte, já pre anunciada pelo agravamento da sua saúde, que não seria lembrado por muito tempo, e que iria cair no esquecimento completo. Como poeta e prosador, talvez tivesse algum reconhecimento, já como parnasiano porém, estaria extinto.
Fonte: http://jornalcienciaespirita.spiritualist.one/
Por: Laura Lins

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