Desencarnação de Silvino Canuto de Abreu - 02 de maio de 1980
Figura ímpar
de vasta cultura e erudição, o Dr. Silvino Canuto Abreu certamente foi uma das
pessoas que mais contribuíram para a preservação da memória do Espiritismo. Suas
obras são impecáveis, tanto pelo gosto quanto no estilo. Escrevia e falava com
fluência os idiomas clássicos e suas principais derivações modernas, o que lhe
permitia o acesso aos textos e relíquias literárias da antiguidade religiosa
oriental e greco-romana.
Dessa forma
ele nos brindou com pérolas do tipo “O Evangelho por fora”, cujas ricas
notas excedem a própria narrativa, mas que nos ensina um olhar especial e
diferenciado sobre as coisas e a essência da Codificação. Depois que lemos um
exemplar presenteado pelo confrade Azamar Trindade, nunca mais usamos a
expressão Espírito de Verdade, mas simplesmente “Espírito Verdade”.
No apetitoso “O
Livro dos Espíritos e sua tradição histórica e lendária”, também editado
pelo Instituto de Cultura Espírita de São Paulo, nos deliciamos com uma
fictícia - ou seria real? - descrição dos acontecimentos cotidianos que
marcaram o lançamento do Livro dos Espíritos, no dia 18 de abril de 1857.
Conduzindo o relato, o nosso cronista descreve os fatos desde as primeiras
horas da manhã, quando o lote da publicação chega para ser exposto na livraria
Dentu até as últimas horas da noite, num coquetel comemorativo, reunindo no
pequeno apartamento de Rivail e Amélie todas as pessoas que colaboraram
diretamente para que edição viesse à público. É um texto perfeito para um
roteiro de cinema. Sobre esse episódio Chico Xavier, em relato para Suely
Caldas Schubert, disse que, naquela manhã, ao sair da livraria, Kardec
encontrou-se com George Sand e ofereceu o seu exemplar histórico do Livro para
a conhecida escritora e ex-companheira de Chopin.
Temos ainda,
com seu toque de genialidade, a tradução da primeira edição do Livro dos
Espíritos, feita especialmente para comemorar os 100 anos do evento, em 1957.
Também não podemos esquecer seus artigos publicados na Revista Santa Aliança
(Metapsíquica), nos quais mergulhamos nas mais remotas raízes da tradição
herética lyonesa e nos fatos que as ligam com os adeptos do Espiritismo nos tempos
modernos. Com o mesmo talento, biografou o Dr. Bezerra de Menezes, fornecendo
ricos subsídios para a história da formação das primeiras instituições
espíritas no século XIX.
O Dr. Silvino,
na condição de médico e adepto da homeopatia, nos legou também um precioso
acervo a respeito das atividades dos fundadores dessa modalidade curativa e
suas ligações e afinidades com o kardecismo. Frequentou importantes círculos
espíritas na França, sempre em busca de “novidades antigas”, tendo convivido
com o escritor Gabriel Dellane, filho de uma das médiuns de Allan Kardec e
produto autêntico da primeira geração de espíritas históricos.
“Assisti a trabalhos por ele presididos. Ouvi
suas lições práticas. Suas longas e cintilantes narrativas. Suas discussões, em
que às vezes erguia a voz, exaltado pela convicção posta em dúvida, e logo a
baixava, sorridente, ao perceber a porta do misticismo, que detestava como
cientista.”
Mas de todas
as suas contribuições, sempre com grande fôlego intelectual, destaca-se uma
revelação pessoal, feita diante de várias testemunhas, cuja versão e
repercussão tornaram-se maiores do que o próprio fato. Diante do espanto dessas
pessoas, Canuto conduziu-os ao seu escritório e sacou dos seus arquivos os tais
textos e aprofundou ainda mais a gravidade da revelação, dado ao impacto ali
causado na mente dos presentes e suas consequências no universo social
espírita. Ele se referia às cartas redigidas por Allan Kardec e dirigidas a
Léon Denis contendo denúncias de traição ao Espiritismo contra o advogado J.B.
Roustaing.
Para quem
alimenta uma imagem sacralizada do Codificador, que era um cientista nato, esta
não é uma informação facilmente compreensível sobre Allan Kardec. Para quem foi
educado para cultuar a natureza mística das instituições espíritas, o
questionamento científico da figura de Roustaing não combina com a postura
serena do mestre lyonês, mesmo que os textos por ele escritos e publicados na
Revue digam ao contrário. Acreditam também alguns confrades mais moderados que
essa grave questão será esquecida ou melhor compreendida com o passar do tempo.
Em todo caso, ela já faz parte da história das nossas controvérsias e merece
registro.
Polêmicas que
fiquem à parte, pois o que nos interessa realmente é apresentar a figura
clássica de Canuto Abreu aos nossos leitores. Tarefa difícil, já que, sempre
que o colocamos em destaque, surge na sua biografia as afinidades e também
alguns embates entre ele e algumas personalidades influentes do nosso
movimento.
Fonte: http://observadorespirita.blogspot.com.br/
Por: Laura Lins
Adorei saber da existência desse tão ilustre Espírito Dr. Canuto! Parabéns Laura pelo artigo! Muito importante para nosso conhecimento Espírita! Valeu mesmo!
ResponderExcluirRealmente, existem muitos personagens que fizeram parte da Doutrina ajudando em algo e não são tão conhecidos.. :)
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