Espiritismo e ecologia - Parte 1/2
Foi em “Caráter da Revelação
Espírita”, documento colocado como primeiro capítulo de A gênese,
que Allan Kardec lançou com vigorosa convicção um desafio ao futuro, ao
declarar que o Espiritismo jamais seria ultrapassado porque admitia até
corrigir-se, se e quando descobertas científicas demonstrassem "estar em
erro acerca de um ponto qualquer".
O que parecia uma temeridade há um século e pouco se confirmou como uma
declaração de inabalável confiança no futuro da Doutrina, que dava então seus
primeiros passos. Já no seu segundo século de história, o Espiritismo não tem
em que se modificar, mesmo porque não montou suas estruturas básicas sobre um
terreno de hipóteses e suposições, mas sobre a rocha firme dos fatos
observados.
Ao contrário de recuos ou correções, estamos assistindo a uma consolidação
e confirmação dos postulados doutrinários. O conceito da reencarnação, por
exemplo, que, de início, o próprio Kardec confessa haver rejeitado, é hoje uma
realidade, documentada por inúmeras experiências confiáveis e começa até a ser
utilizado como instrumento terapêutico por psicólogos e psiquiatras de vanguarda.
E mais: demonstrada a realidade da reencarnação, fica, obviamente, demonstrada
a da sobrevivência do espírito, além da sua existência, é claro. Como iria ele
reencarnar-se a não ser que houvesse sobrevivido à suas existências anteriores?
O aspecto da sobrevivência, por sua vez, começa a emergir com
espontaneidade e nitidez das recentes observações científicas acerca da morte
aparente, como se tem visto dos depoimentos dos drs. Moody, Ritchie, Kubler
Ross, Sabon e outros.
Quanto ao intercâmbio entre 'vivos' e mortos' já se esgotou o estoque de
objeções em que foi tão fértil a imaginação dos obstinados negadores de sempre.
É que um dia eles também morrem, como todos nós, e vão lamentar do 'outro
lado', o tempo perdido e a perdida guerra contra a Verdade. Quando regressarem
à carne, em nova existência, talvez venham menos negativos e mais inclinados a
admitir que, afinal de contas, também eles são espíritos imortais.
Essas reflexões costumam ocorrer-me – e as reexamino sempre com alegria –
quando vejo colocados na agenda da ciência moderna temas como o da reencarnação
e inúmeros outros na área da Parapsicologia. Ou quando tomo conhecimento do
amplo e dispendioso esforço que hoje se promove com ajuda da mais sofisticada
tecnologia para comprovar a realidade de outras civilizações espalhadas pelo
universo. Não faltou quem achasse que esta seria mais uma ridícula fantasia do
Espiritismo, quando, há mais de um século, afirmou que a Terra não era o único
planeta habitado nos amplos espaços cósmicos e mais, que nem era dos mais
adiantados em conhecimento moral.
Algo semelhante está acontecendo com o conceito de perispírito. Formulação
doutrinária tida à época como duvidosa – embora não fosse precisamente uma
novidade pois dele já falava Paulo e antes de Paulo, os egípcios, que
distinguiam o 'ba' do 'ka' – o perispírito teve seus críticos impiedosos entre
alguns cientistas e pensadores mais apressados. Já agora, a ideia começa a
aprofundar raízes no pensamento científico. Lyall Watson, em Supernature (Ed.
Coronet, Londres, 1974), admite o que chama de life field, ou seja, um campo
vital, que, em outras palavras, é o modelo organizador biológico proposto por
cientistas brasileiros.
– Isto quer dizer – escreve Watson – que o campo vital possui capacidade
organizadora, ou seja, uma espécie de molde que projeta a forma e a função de
cada organismo em gestação.
Sintomaticamente cita ele, nessa passagem, o trabalho de Russell (Design
for Destiny), que entende esse 'campo' como 'um mecanismo integrador que não
apenas projeta o organismo, mas sobrevive, na condição de alma, quando este
morre'. Russell por sua vez, reflete e confirma o respeitável testemunho de
Harold S. Burr, exposto em Blueprint for Immotality (Ed. Spearman, Londres) ao
narrar suas conclusivas experiências.
Mas há outros temas modernos sobre os quais encontramos sumárias
formulações no contexto da Doutrina ou no seu bojo são encaixados para uma
visão mais abrangente do que significam para a comunidade humana.
Tome-se, para exemplo, o tema atualíssimo da ecologia. Aparentemente, nada
teria o espiritismo a ver com o problema, que não está especificamente referido
na codificação, a não ser em referências indiretas, como na questão 733, na
qual os espíritos ensinam que 'o horror à destruição cresce com o desenvolvimento
intelectual e moral'. Ou em passagens, nas quais é discutida a lei da
conservação.
No entanto, a
doutrina tem sempre uma visão dualística da vida, pois o ser humano é um
espírito vivendo transitoriamente na matéria. Na realidade, o movimento ecológico
mundial nos convida à meditação, pelas suas implicações doutrinárias e pela
contribuição que o espiritismo poderá trazer à melhor iluminação do tema.
Texto do Acervo jornal
Correio Fraterno. Edição 164 de agosto de 1984.
Autor:
Herminio C Miranda
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