O Talento literário de Humberto de Campos.

Conta-nos Alexandre Caroli Rocha:

O tipo de texto mais praticado por Humberto de Campos, sem o artifício de pseudônimo, foi a crônica. Com relação a ela, Brito Broca ressalta o êxito que obteve o escritor em sua época: “Na crônica, um dos gêneros mais ingratos em nosso país, conseguiu ele uma popularidade espantosa. Conseguiu fazer-se lido por muita gente que nunca havia passado os olhos por tal espécie de Literatura. Machado de Assis, Olavo Bilac e o próprio João do Rio – mestres da crônica – não lograram impô-la senão a um círculo relativamente restrito de leitores. Humberto de Campos, embora com certas concessões, mas se colocando sempre num nível puramente literário, fê-la chegar ao grande público.” (Broca, 1991b, p. 176)

E arremata:

Essa contribuição de Humberto de Campos à crônica no Brasil é realçada por João Clímaco Bezerra: “A crônica seria a mais alta expressão da sua atividade literária. Pode-se afirmar hoje, sem exageros indefensáveis, que ele deu nova dimensão ao gênero, eliminando as últimas reservas dos que negam a essa forma de expressão foros de literatura e de arte.” (Bezerra, 1979, p. 9)

Sobre o “esquecimento” que o próprio Humberto de Campos fazia referência antes de desencarnar, Temos uma entrevista á Revista Veja dada por Drummond.

VEJA: A posteridade o preocupa?

DRUMMOND: De maneira nenhuma, pelo contrário, não dou a mínima. Quando vejo os poetas que dominavam o Rio quando vim para cá e que hoje não têm quem reedite suas obras… Havia um escritor chamado Humberto de Campos que era o máximo – até que morreu. O Brasil inteiro acompanhou sua doença, foi uma comoção nacional. Todo mundo lia seus livros. Hoje, não há um editor que se lembre de publicar Humberto de Campos. (Drummond, 1980)
Alexandre Caroli Rocha, conclui que de maneira geral os livros integralmente a respeito de Humberto de Campos, possuem uma característica comum. O discurso encomiástico de quase irrestrito elogio ao autor.São as obras relacionadas a seguir:

1.      Humberto de Campos e sua expressão literária (data provável: segunda metade dos anos 30 ou primeira dos anos 40), por Hermes Vieira

2.       Humberto de Campos (sem data; prefácio de 1937), de Macário de Lemos Picanço

3.      Humberto de Campos (1956), de Maria de Lourdes Lebert

4.      Humberto de Campos: um exemplo de vida (1990), de Almir de Oliveira,

5.      Irmão X, meu pai (1997) é o livro em que Humberto de Campos Filho focaliza a biografia de seu pai e a estende para além de 1934, ano de sua morte.

Algumas anotações pessoais, levadas a público para apreciação ou depredação da figura de Humberto, nos impressiona pela síntese das crônicas. De um lado, vê seus ídolos superados por ele próprio, tecendo em seu diário tristes notas como a que se segue, em referência a Coelho Neto e à época sua recente publicação, o livro “Bazar”:

Recebo um novo livro de Coelho Neto: Bazar. É um punhado de crônicas de jornal, em que se seguem os lugares-comuns, se sucedem as expressões banais, os termos da gíria, as frases feitas, compondo página sem relevo, sem interesse, sem beleza. Ao ler as primeiras, apossou-se de mim uma grande tristeza, uma grande piedade, um grande dó. Lembrei-me de uma frase do Abade Brémond, e exclamei, comigo mesmo: – Meu pobre e grande Coelho Neto! A ti, que dessedendaste de beleza tantas gerações, como custa, hoje, espremer o resto do último limão para preparar uma limonada!… (Campos, 1954a, p. 330)

Publicamente no entanto, era muito mais ameno ao se referir ao amigo que lhe dera guarita e entusiasmo nos dias em que chegara ao Rio de Janeiro. Tornou pública a seguinte crítica:

O novo livro do príncipe dos nossos prosadores, sem ser, assim, um documento reafirmador do seu estilo suntuoso ou, como querem outros, suntuário, difere dos demais pela vivacidade das idéias, e pela coragem com que desce a discutir assuntos vulgares e transitórios. Bazar é, mesmo, um livro quase político. Tem mais valor pela substância, pelas opiniões que enuncia, pelas idéias pessoais que difunde, do que pela vestimenta que lhe dá. É um retrato do sr. Coelho Neto, mas apanhando apenas meio corpo. O estilista uniforme, esse está na sua obra de ficção – nos seus romances, nos seus contos, nas suas fantasias fortes, nos cenários e acontecimentos, em suma, que se desenrolam fora da vida comum. (Campos, 1960u, p. 298-299)

Nota-se portanto que o livre pensador, cético, nem sempre fora tão nobre na intimidade quanto na publicidade, devia certamente demonstrar o respeito e a admiração que tão em voga no passado nutria à figura espartana e viril de Coelho Neto. Não deixou entretanto a crítica nas entrelinhas que certamente atingiram em cheio o coração de velho e ultrapassado ídolo.

Humberto desenvolveu suas habilidades nas letras, copiando o estilo de outros escritores, isso é notório analisando sua vida e suas obras. Não se nota contudo a intenção de subtrair méritos alheios, é um processo natural pelo qual a maioria dos escritores, cronistas ou poetas podem passar, é uma busca ao longo da vida intelectual, objetivando assimilar muitos autores, estilos e métodos, também uma forma de enaltecê-los, desenvolver as próprias faculdades, e demonstrar o alcance da cultura adquirida. É uma forma de demonstrar a quem se coloca na posição de crítico, que se escreve com conhecimento de causa e estilos diversos.

Paralelos de algumas de suas obras, foram estabelecidos por alguns pesquisadores de seu estilo e vida. Hermes Vieira por exemplo, identificou que o ponto de partida de seu conto “A Noiva”, estava filiado a um outro conto existente nas letras francesas, ambos entretanto, abstração de uma lenda oriental.

Similar analogia encontrada em “O Seringueiro”, embora o de Humberto seja muito menos fantasioso e muito mais verdadeiro que o de Lucio de Mendonça, que é, por alto, uma variante desta narrativa.” (Vieira, s/d, p. 108), conta-nos Alexandre Caroli Rocha: — Em anotação de 28 de outubro de 1931, de Fragmentos de um diário, Humberto de Campos, como fizera com Maupassant, em citação acima, compara-se com os autores que estava lendo: “O navio reduz a marcha para chegar pela madrugada a Montevidéu. Dores de cabeça e perturbação visual. Mas continuo a ler, dia e noite, assim que a vista me permite. Leio Mamine Sibiriak, Andreiev, Gorki, Garchine, Tolstoi. E meu espírito se encolhe como uma formiga à passagem desses elefantes siberianos. Que músculos têm, na alma, estes gigantes!” (Campos, 1960s, p. 218-219)

Fonte: http://jornalcienciaespirita.spiritualist.one/
Por: Laura Lins

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