Obsessão na Infância?


"...todo o berço de agora retrata o ontem que passou." -Emmanuell

Muitas são as perguntas que assomam à mente quanto à questão da obsessão na infância.

Durante muito tempo, mesmo em nosso meio espírita, havia a ideia de que a criança não sofria atuações de obsessores, de que era cercada de defesas naturais, como, por exemplo, a presença de seu anjo guardião, ou espírito protetor. A prática, porém, mostrou outra realidade. Assim, muitos dos achaques, doenças e problemas apresentados na fase infantil, aos poucos, foram sendo identificados como presenças de espíritos perseguidores, evidenciando que processos obsessivos também atingem as crianças.

Não é difícil deduzir que a causa profunda, nestes casos, está nas vivências pregressas, já que aquele que momentaneamente habita um corpo infantil é, na verdade, um espírito multimilenar, com uma longa história e vasto cabedal de experiências, a maioria delas comprometedoras.

Portanto, os processos obsessivos podem acontecer também na fase infantil, assim como ocorrem os transtornos mentais e enfermidades diversas.

A respeito deste assunto, encontramos em "O Livro dos Espíritos" preciosas elucidações. Vejamos, por exemplo, a afirmação que se segue:

"Aliás, não é racional considerar-se a infância como um estado normal de inocência. Não se vêem crianças dotadas dos piores instintos, numa idade em que ainda nenhuma influência pode ter tido a educação? Algumas não há que parecem trazer do berço a astúcia a felonia, a perfídia, até o pendor para o roubo e para o assassínio, não obstante os bons exemplos que de todos os lados se lhes dão?
"Donde a precoce perversidade, senão da inferioridade do Espírito, uma vez que a educação em nada contribuiu para isso? As que se revelam viciosas, é porque seus Espíritos muito pouco hão progredido. Sofrem, então, por efeito desta falta de progresso, as conseqüências, não dos atos que praticam na infância, mas de suas existências anteriores". (Questão 199-1) (Allan Kardec, O livro dos Espíritos)

Cada Espírito reencarnado evidencia o seu patamar evolutivo. Daí a afirmativa de Emmanuel de que "cada individualidade renasce em ligação com os centros de vida invisível dos quais procede e continuará, de modo geral, a ser instrumento do conjunto em que mantém suas concepções e pensamentos habituais." (Emmanuel, Roteiro)

Existem, pois, fatores predisponentes que possibilitam não apenas o assédio, mas igualmente a sintonia. Esta se faz automaticamente, por estar o Espírito recém-encarnado na mesma frequência vibratória daqueles que intentam perturbá-lo. Tanto em adultos quanto em crianças os motivos e as causas são os mesmos.

Sabemos que, nos planos espirituais inferiores, verdadeiras hordas de espíritos necessitados, comprometidos perante as leis divinas, são subjugados por outros de condições ainda inferiores, que os mantêm em regime de escravização mental, sendo manipulados e usados para atender os fins nefastos desses nossos irmãos gravemente enfermos. À medida que esses espíritos, forçados a agir - às vezes contra a própria vontade - apresentem posições mentais receptivas, seja por esgotamento do carma doloroso, seja pelo cansaço e desespero que os levam a pedir socorro a Deus, denotando arrependimento e mudança de faixa mental, são resgatados dos vales de aflições em que se encontram e levados para hospitais adequados às suas novas disposições. Havendo condições e premente necessidade, são encaminhados para o retorno à esfera física, quando novos ensejos lhes são concedidos de ressarcimento e progresso espiritual.

Importa considerar que são quase infinitas as nuances desses processos, que vão desde circunstâncias agravantes quanto atenuantes, a influenciarem decisivamente o conjunto das experiências que cada um dos reencarnantes irá vivenciar.

Embora possam ser muito dolorosas tais vivências no plano terreno, é certo que são bem mais suportáveis que os sofrimentos que esses Espíritos padeciam antes de reencarnar. O novo corpo ameniza bastante os estados aflitivos em que se encontravam, que tinham sua nascente na própria consciência que o remorso calcinava ou no ódio e revolta em que se consumiam. O renascimento e o esquecimento do passado propiciam-lhes considerável alívio, ainda que em situações difíceis por conta de um veículo físico que apresente limitações. Vale dizer que os distúrbios mentais surgem em decorrência dessas mesmas experiências pregressas.

Entretanto, durante o trânsito carnal, as novas oportunidades para a grande maioria desses espíritos reencarnados nessas condições mencionadas, podem ainda expressar vínculos com aqueles que os atormentavam anteriormente, seja por débitos graves do passado, seja por preferência própria em manter sintonia com tais entidades, tal como elucida Emmanuel, linhas atrás.

Portanto as obsessões na infância trazem raízes profundas no pretérito e podem assomar desde muito cedo na vida dessas crianças.

A visão do Espiritismo em relação à criança obsidiada é holística, pois que não a dissocia, na sua forma atual, do adulto de ontem quando contraiu o débito. Ensina que infantil é somente o corpo, já que o Espírito possui uma diferente idade cronológica, nada correspondente à da matéria. Além disso, propõe que se cuide não só da saúde imediata, mas sobretudo da disposição para toda uma existência saudável, que proporcionará uma reencarnação vitoriosa, o que equivale dizer, rica de experiências iluminativas e libertadoras. Adimos a terapia do amor dos pais e demais familiares envolvidos no drama que afeta a criança. (Trilhas da Libertação, Manoel P.de Miranda)

Autor: Suely C. Schubert

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